Escuto inúmeras vezes frases como “eu sou assim mesmo”, “fiz um assessment e diz que é meu perfil”, “não posso trabalhar com vendas porque sou introvertido” e tantas outras do gênero. Frequentemente as pessoas são rotuladas, aceitam esses “rótulos” como verdades e se limitam.
Após anos trabalhando com desenvolvimento de pessoas e sendo analista psico-comportamental, afirmo com conhecimento que você não é, mas pode escolher ser. Em relação a assessments tenho críticas a muitos deles que têm eclodido no mercado sem qualquer estudo ou base confiável de dados, mas tenho ainda mais críticas aos profissionais que dão o retorno do resultado do teste e dizem “você é assim”. A pessoa não é, porque somos seres em constante mudança, então estamos temporariamente exibindo comportamentos relacionados àquele resultado apontado. Outro ponto importante é a respeito de feedback. Se você é líder ou, por algum motivo, fornece feedback, seja extremamente cuidadoso e cauteloso. Tanto quando falamos coisas boas ou ruins podemos implantar um “rótulo” na mente da pessoa que pode fazê-la achar que é um super-herói ou um fracasso. E não diga que a pessoa entenda como quiser, porque a responsabilidade também é sua. Não se exima!
Em 1921, Carl Jung escreveu o livro Tipos Psicológicos após anos de profundo estudo e, segundo Jung:
“A tipologia psicológica não tem a finalidade, em si bastante inútil, de dividir as pessoas em categorias. Significa uma psicologia crítica que possibilite a investigação e ordenação metódicas dos materiais empíricos relacionados à psique.”
Resumindo, a tipologia mostra qual sua preferência inata, ou seja, nascemos com uma preferência e essa é onde ficamos mais confortáveis, gastamos menos energia e temos mais facilidade. Sabe quando fazemos algo pela primeira vez com destreza, enquanto outros acham muito difícil? É seu perfil psicológico inato. O mesmo se aplica quando é necessário fazer algo que nos demanda extrema atenção, dedicação e, no final, estamos muito cansados e sem energia. Foi necessário aprender, sair de sua zona de conforto, mas você foi capaz de fazer. Logo, você não é um rótulo, mas tem mais facilidade quando é sua essência.
Em 1942, Katherine Briggs e Isabel Briggs Myers, mãe e filha respectivamente, começaram um trabalho para fazer com que as pessoas conseguissem identificar seu tipo psicológico, segundo as teorias de Jung. Desenvolveram questionários que eram aplicados e descartavam o que não funcionava. Em 1957, após mais de 10.000 questionários aplicados, os resultados foram apresentados ao ETS – Educational Testing Services– em Princeton e, em 1962, foi publicado o Manual de Identificação de Tipo Psicológico pelo ETS. Desde então, é aplicado e possui um vasto banco de dados com análises e comprovações de sua eficácia. Ou seja, são 52 anos de base. Qual outro assessment possui essa solidez e confiança? Por essa razão optei por me qualificar como analista psico-comportamental MBTI® há alguns anos.
Os tipos psicológicos são nomenclaturas formadas por 4 letras totalizando 16 tipos, sendo as preferências divididas da seguinte forma:
Energia: Prefere se concentrar no mundo exterior ou no seu próprio mundo interior? Isso é chamado de Extroversão (E) ou Introversão (I).
Informação: Prefere concentrar-se nas informações básicas que recebe ou prefere interpretar e adicionar significado? Isso é chamado de Detecção (S) ou Intuição (N).
Decisão: Ao tomar decisões prefere primeiro analisar a lógica e a consistência ou primeiro as pessoas e as circunstâncias especiais? Isso é chamado de Pensamento (T) ou Sentimento (F).
Estrutura: Ao lidar com o mundo exterior prefere que as coisas sejam decididas ou prefere deixar em aberto para novas informações e opções? Isso é chamado de Julgamento (J) ou Percepção (P).
Percebe que são chamadas de “preferências”? Justamente porque são preferências e podemos transitar entre os dois lados, porém demanda maior esforço. Agora vamos desmistificar um pouco o entendimento dessas preferências.
Extroversão (E) ou Introversão (I)
É a primeira letra que forma o tipo psicológico e é mais facilmente identificada, porém existem grandes equívocos relacionados ao entendimento dessa preferência. O extrovertido, normalmente, é mais falante, facilmente notado em qualquer ambiente, pois costuma falar mais alto, conhece pessoas com facilidade, esbarra ou derruba objetos ou pessoas e, raramente, passa despercebido. O introvertido costuma ser discreto, detesta chamar atenção, está sempre observando e preferiria estar assistindo Netflix do que no meio daquela multidão. Porém, isso não é porque o introvertido é tímido, mas sim porque a introversão ou extroversão estão diretamente relacionadas com a forma como a pessoa recupera sua energia. O extrovertido recupera energia estando no meio de pessoas e se ficar sozinho ele fica triste e se sente não amado, enquanto o introvertido torce para o telefone não tocar na sexta à noite, assim ele não precisa pensar numa desculpa para não sair e poderá ficar lendo sozinho no aconchego do lar.
Detecção (S) ou Intuição (N)
Na segunda e terceira letras já fica mais complicado de detectar de “bate pronto”, mas um analista experiente está apto. Aproximadamente 75% das pessoas são “S”, ou seja, preferência detector que, traduzindo, são aquelas pessoas que preferem fazer qualquer coisa baseadas em informações com fatos e dados, que já foram testados e comprovados. São aquelas pessoas que sempre perguntam “Já fizeram isso antes? Qual foi o resultado?” e, se o resultado foi ruim, logo elas dizem “Para que tentar novamente se já deu errado?”. Os Intuitivos (N) são as pessoas que “pensam fora da caixa”, mas que logo aparece um “S” e diz “Tá maluco? Tomou o que no café?”. Eles costumam trazer ideias que nunca foram imaginadas e, menos ainda, testadas. Gostam de imaginar possibilidades e testá-las. Pensam “Se não tentar como saberá se funciona?” ou “Pode ser a descoberta que mudará o mundo!”. As grandes mentes criadoras da história são “N”, como Albert Einstein que era um INFP ou Thomas Edison que era um ENTP. Imagina se eles tivessem parado só porque alguém perguntou se eles eram malucos?
Pensamento (T) ou Sentimento (F)
Na preferência Pensamento ou Sentimento é onde ocorrem os maiores equívocos e dificuldade de identificar. Para resumir de modo superficial dizem que os “T” são lógicos e os “F” são sentimentais, então logo imaginamos o primeiro todo racional e sem sentimentos, enquanto o segundo é irracional e chorão. Todavia, não é bem assim. A questão é muito mais interna. É o modo de processar a informação para a tomada de decisão. Um bom exemplo é num processo de reestruturação de uma empresa, quando pessoas acabam sendo desligadas. Se a pessoa é “T”, entende que a decisão é lógica, sente por ter que fazer aquilo, faz e depois não pensa mais no assunto. Se a pessoa é “F”, ela também entende que a decisão é lógica, sente por ter que fazer aquilo, faz e depois sofre por dias, meses, anos. Sofre tanto que chega a ter dores físicas. Ficou clara a diferença?
Julgamento (J) ou Percepção (P)
A última letra que forma o conjunto do tipo psicológico é tranquila de identificar, pois, normalmente, são muito opostos. A pessoa que tem preferência “Julgamento” (J), não é que ela julga, longe disso, é aquela pessoa organizada, planejada, disciplinada, pontual. Enquanto a pessoa “Percepção”, eu chamo de “deixa a vida me levar” parodiando Zeca Pagodinho. Olha como é fácil identificar: você marcou de encontrá-la às 19h no restaurante, se você é um “J” chegará antes do horário, provavelmente, então dá o horário combinado e seu amigo não chega. Você manda uma mensagem e ele diz: “Chego em 5!”, mas, na verdade, ele está saindo de casa e você espera 50 minutos. Ou vocês vão viajar e ele resolve fazer a mala na hora de ir para o aeroporto e ainda diz: “Por que está tenso? Vai dar tudo certo!”. Conhece alguém assim?
Há aproximadamente 20 anos foi desenvolvido o MBTI® Step II, que analisa os perfis comportamentais, sendo 5 facetas dentro de cada preferência psicológica. As facetas comportamentais indicam como está agindo naquele momento da vida e podem estar tanto dentro da preferência psicológica quanto na preferência oposta, que mostra a maturidade da evolução comportamental e ajustes conforme as necessidades.
Por que saber seu tipo psicológico e entender suas preferências?
Para se conhecer, saber como pode melhorar seus pontos fortes e minimizar o que lhe causa problemas. Ao mesmo tempo entender o outro, pois quando conhecemos um pouquinho sobre o assunto conseguimos olhar o outro com um olhar mais apurado e nossa empatia pelo próximo aumenta. Estabelecemos relacionamentos mais saudáveis no trabalho, com amigos e parceiros amorosos. Também paramos de querer que a pessoa se torne algo que não é sua essência ou paramos de sacaneá-la por ela ter ideias diferentes das nossas.
Provavelmente você conhece alguém que trabalhava num cargo X e era mal avaliado, mas quando mudou de cargo ou carreira, a pessoa brilhou. Isso acontece porque estava no lugar errado. Estava sendo mal aproveitado seus talentos. Por isso sempre recomendo cuidado aos gestores que avaliam mal seus funcionários e dizem que não estão performando. A responsabilidade de identificar os porquês da não performance é do Gestor. Se seu funcionário está falhando, você também está falhando.
Outros testes, ou assessments, que gosto muito e confio são o Eneagrama, que é milenar, e o Gallup Strenghts. Ambos fornecem informações complementares ao MBTI® e que em conjunto ajudam a definir objetivos de vida e carreira, assim como um planejamento com todas as habilidades e competências a serem desenvolvidas para obter êxito.
Se quer conhecer mais sobre o MBTI® no meu site você encontrará o detalhamento de todos os 16 tipos psicológicos.
Vanessa Cioffi
Sou especialista em planejamento e transição de carreira. Meu objetivo é ajudar pessoas a identificarem suas competências e habilidades e atingirem a totalidade de seu potencial para serem realizadas em suas carreiras e vidas. Nas horas vagas sou aprendiz de escritora, fotógrafa e viajante compulsiva.
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